Total de visualizações de página

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

E A TAL FELICIDADE?

      Nunca havia pensado muito no assunto, apesar do estranho cacoete de me perguntar com certa frequencia, quase que de forma inconsciente, "Liana, tu é feliz?" É tão interno e espontâneo que por vezes me parecer vir de outra pessoa, como se sussurrado em meu ouvido. E eu nunca sei a resposta... Afinal, o que é isto?
      São as necessidades e desejos realizados? A sensação de bem-estar, um estado de espírito? A realização profissional e o carro novo na garagem? Estar apaixonada? Ser saudável e ter amigos? Amar e se amada pelos filhos? Ou seria a harmonia e equilíbrio interno, o auto-preenchimento? Ou então o cultivo de bons sentimentos, a integração com o Universo, com Deus? A felicidade está dentro ou está fora?
      Filósofos, psicólogos, sociólogos entre outros sempre procuraram através dos tempos, em vão, uma definição completa e satisfatória. O dicionário (Luft) assim a conceitua: 1. Qualidade ou estado  de feliz; ventura; contentamento. 2 Sucesso; êxito. Aristóteles acreditava, há mais de dois mil anos, que a felicidade se atingia pelo exercício da virtude e não da posse. Charles Chapin dizia que nosso cérebro é o melhor brinquedo já criado: nele se encontram todos os segredos, inclusive o da felicidade. Nietzsche afirmou não ser a força, mas a constância dos bons sentimentos que conduz os homens à felicidade. Thomas Hardy leciona que a tal felicidade não depende do que nos falta, mas do bom uso que fazemos do que temos. Há meio século, o sonho americano da classe média era possuir casa própria, carro na garagem e  filhos na universidade. Atingidos tais objetivos este povo hoje não se considera feliz e satisfeito. A maioria dos brasileiros se compraz com as alegrias do futebol, carnaval, novelas e o churrasquinho com os amigos no fim-de-semana. E isto, então, acontece esporádicamente. Assim, a felicidade é momentânea, tal como a própria vida, tão vulnerável e efêmera! E o homem é um eterno insatisfeito, busca sempre mais e mais, vivendo com a cabeça no futuro e/ou passado pouco aproveitando do momento presente. A propósito, John Lennon advertia que a vida é o que está acontecendo enquanto estamos pensando no futuro.
    Recentemente li um texto budista que aconselhava: Não desfrute somente o sol, aprecie também a lua. Não desfrute somente a calmaria, aproveite a tempestade. Tudo isso enriquece a existência. A vida não acontece somente dentro de casa, da cidade, do país: ela tem de ser experimentada dentro do universo. A felicidade é um jeito de viver, é uma conduta, é uma maneira de estar agradecido  a quem lhe estende a mão e também a quem o abandona, pois certamente nesse abandono está a possibilidade de se descobrir a força que há em seu interior. Não é o que já se tem, mas o que fazer com isso. Há pessoas que, apesar de ter bens materiais, de ser bem relacionadas, com filhos saudáveis, ainda assim se sentem angustiadas, deprimidas, insatisfeitas. Cada momento tem sua beleza e assim não só nas alegrias há evolução, a dor constitui oportunidade de aprendizado da existência.
    Li outros muitos, aqui e ali, sem ainda encontrar ressonância ampla. No entanto, vasculhando em meus recuerdos estes dias encontrei um texto escrito por minha filha, singelo, sincero e surpreendente. Foi "tema de casa", imagino que de Português, datado de 2001. Reli e reli. Me emocionei com a pureza e verdade na visão de sua meninice:

                    Felicidades

        O horizonte, a liberdade
       Caminhar, paquerar
       Longe dos relógios
       Saudades gostosa
      Novas idéias
      Dançar, conversar
      O amanhecer no mar
      Um abraço
      Cantar
      Assistir um bom filme
      O sorriso da pessoa querida
      Ficar de papo pro ar
      Ouvir aquela música que contagia
      Rir de bobagens
     O sol no final da tarde
     O frescor da noite
     Um banho revigorante
     Sol e chuva
     Ajudar
     Acontecimnetos inesperados
    A familia reunida num domingo
    Uma linda pintura
    Um bom livro
    Arte romântica
    Conhecer alguém especial
     Flores
     Sintonia do beijo
     Espreguiçar-se
     Uma discussão saudável
     Pequenos momentos caseiros, tranquilos
     Ouvir os pássaros
     Ser compreendida e apreciada
     Dormir bem
     Rever amigos
     Conhecer outros
     O frio da manhã no rosto
     Fortes sentimentos
     Relaxar, decidir
     O saber                  Juliana Fabrício Cruz

      Agora, quando a "vozinha" vier me perguntar, "Liana, tu és feliz?" Vou lembrar dos itens desta lista e de quantas vezes pude tê-los e quantas muitas ainda poderei! E vou responder:    "Sou!"

Nenhum comentário: