Nunca havia pensado muito no assunto, apesar do estranho cacoete de me perguntar com certa frequencia, quase que de forma inconsciente, "Liana, tu é feliz?" É tão interno e espontâneo que por vezes me parecer vir de outra pessoa, como se sussurrado em meu ouvido. E eu nunca sei a resposta... Afinal, o que é isto?
São as necessidades e desejos realizados? A sensação de bem-estar, um estado de espírito? A realização profissional e o carro novo na garagem? Estar apaixonada? Ser saudável e ter amigos? Amar e se amada pelos filhos? Ou seria a harmonia e equilíbrio interno, o auto-preenchimento? Ou então o cultivo de bons sentimentos, a integração com o Universo, com Deus? A felicidade está dentro ou está fora?
Filósofos, psicólogos, sociólogos entre outros sempre procuraram através dos tempos, em vão, uma definição completa e satisfatória. O dicionário (Luft) assim a conceitua: 1. Qualidade ou estado de feliz; ventura; contentamento. 2 Sucesso; êxito. Aristóteles acreditava, há mais de dois mil anos, que a felicidade se atingia pelo exercício da virtude e não da posse. Charles Chapin dizia que nosso cérebro é o melhor brinquedo já criado: nele se encontram todos os segredos, inclusive o da felicidade. Nietzsche afirmou não ser a força, mas a constância dos bons sentimentos que conduz os homens à felicidade. Thomas Hardy leciona que a tal felicidade não depende do que nos falta, mas do bom uso que fazemos do que temos. Há meio século, o sonho americano da classe média era possuir casa própria, carro na garagem e filhos na universidade. Atingidos tais objetivos este povo hoje não se considera feliz e satisfeito. A maioria dos brasileiros se compraz com as alegrias do futebol, carnaval, novelas e o churrasquinho com os amigos no fim-de-semana. E isto, então, acontece esporádicamente. Assim, a felicidade é momentânea, tal como a própria vida, tão vulnerável e efêmera! E o homem é um eterno insatisfeito, busca sempre mais e mais, vivendo com a cabeça no futuro e/ou passado pouco aproveitando do momento presente. A propósito, John Lennon advertia que a vida é o que está acontecendo enquanto estamos pensando no futuro.
Recentemente li um texto budista que aconselhava: Não desfrute somente o sol, aprecie também a lua. Não desfrute somente a calmaria, aproveite a tempestade. Tudo isso enriquece a existência. A vida não acontece somente dentro de casa, da cidade, do país: ela tem de ser experimentada dentro do universo. A felicidade é um jeito de viver, é uma conduta, é uma maneira de estar agradecido a quem lhe estende a mão e também a quem o abandona, pois certamente nesse abandono está a possibilidade de se descobrir a força que há em seu interior. Não é o que já se tem, mas o que fazer com isso. Há pessoas que, apesar de ter bens materiais, de ser bem relacionadas, com filhos saudáveis, ainda assim se sentem angustiadas, deprimidas, insatisfeitas. Cada momento tem sua beleza e assim não só nas alegrias há evolução, a dor constitui oportunidade de aprendizado da existência.
Li outros muitos, aqui e ali, sem ainda encontrar ressonância ampla. No entanto, vasculhando em meus recuerdos estes dias encontrei um texto escrito por minha filha, singelo, sincero e surpreendente. Foi "tema de casa", imagino que de Português, datado de 2001. Reli e reli. Me emocionei com a pureza e verdade na visão de sua meninice:
Felicidades
O horizonte, a liberdade
Caminhar, paquerar
Longe dos relógios
Saudades gostosa
Novas idéias
Dançar, conversar
O amanhecer no mar
Um abraço
Cantar
Assistir um bom filme
O sorriso da pessoa querida
Ficar de papo pro ar
Ouvir aquela música que contagia
Rir de bobagens
O sol no final da tarde
O frescor da noite
Um banho revigorante
Sol e chuva
Ajudar
Acontecimnetos inesperados
A familia reunida num domingo
Uma linda pintura
Um bom livro
Arte romântica
Conhecer alguém especial
Flores
Sintonia do beijo
Espreguiçar-se
Uma discussão saudável
Pequenos momentos caseiros, tranquilos
Ouvir os pássaros
Ser compreendida e apreciada
Dormir bem
Rever amigos
Conhecer outros
O frio da manhã no rosto
Fortes sentimentos
Relaxar, decidir
O saber Juliana Fabrício Cruz
Agora, quando a "vozinha" vier me perguntar, "Liana, tu és feliz?" Vou lembrar dos itens desta lista e de quantas vezes pude tê-los e quantas muitas ainda poderei! E vou responder: "Sou!"
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